quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Calando a boca da imprensa

Na década se sessenta, para quem tinha alguma idade de prestar atenção nas coisas, incomodava o fato de você ver uma coisa e ler sobre ela de um modo completamente transfigurado nos jornais. Como alguns de nós éramos crianças à época, aquilo passava como incompetência da imprensa.
Quando nos tornamos um pouco mais atentos, percebemos que não, que a verdade, isto sim, estava sendo ocultada compulsoriamente pela máquina massificadora do Estado, que na ocasião era formada por ditadores militares.
Vimos nossos ídolos sendo exilados por comporem músicas que nos alertavam para esta realidade e jornalistas ficando famosos por suas mortes, desaparecimentos e prisões. Foi um feito traumático termos de torcer pelo lado “terrorista”, que ousava mais no ato de noticiar e de revoltar contra a situação e nos sentirmos até mesmo temerosos ao explicitarmos nossa indignação em nossas simples redações escolares.
Talvez tenha sido esta a minha motivação para tornar-me jornalista.
O Brasil, o povo brasileiro, que vinha se orgulhando por viver num país democrático e livre, que aprendeu a superar a repressão militar e que também, após o Ato Inconstitucional nº 5 de dezembro de 1968, vinha conseguindo galgar paulatinamente seu direito de expressão e pensava tê-lo conquistado mais plenamente após 1985, com a eleição de Tancredo Neves derrubando o militarismo, hoje se vê estupefato com a censura indiscriminada que o governo petista impõe a órgãos portentosos da Imprensa.
Recentemente, com relação ao aumento da tarifa de ônibus e metrôs urbanos, uma pequena multidão se manifestou próximo ao Largo São Bento. Houve represália, tiros de efeito e tudo mais. Porém, a mídia não notificou. Eu também não. Cheguei a duvidar do que via, por causa da falta de notícias. A de janeiro, apenas uma nota mentirosa no site na Band falando de “150 pessoas reunidas numa manifestação pacífica” quando, na verdade, havia mais de 3.500 pessoas no local; a segunda, em fevereiro, nem isto se publicou, foi simplesmente como se não tivesse acontecido nenhuma manifestação. Mas quem estava lá sabe o que houve ou ouviu de longe os estampidos que o protesto provocou.
Não se pode mais negar que o PT está dando um “cala boca federal” na Imprensa. O que dá mais medo, porém, é pensar em qual o porquê disto.

"QVOVSQVE TANDEM ABVTERE, CATILINA, PATIENTIA NOSTRA?"

Leiam a seguir a importante matéria da Agência Estado saída na UOL sobre a censura no Google.

DA SEÇÃO UOL DE NOTÍCIAS -  ÚLTIMAS NOTÍCIAS
EM 16/02/2011 - 10h15:
Brasil bate recorde de notícias censuradas no Google

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São Paulo - Só na primeira metade do ano passado, o Google foi obrigado por autoridades brasileiras a tirar do ar 398 textos jornalísticos. Foi recorde mundial do período. O dobro do segundo da lista, a Líbia. O dado está no relatório do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), divulgado ontem em São Paulo. Além disso, nos dias finais da corrida eleitoral brasileira, os juízes do País emitiram 21 ordens de censura, revela uma pesquisa do Centro Knight para o Jornalismo, do Texas (EUA). Muitas agências de notícias foram também multadas ou tiveram de remover conteúdos.
"Esse quadro mostra que a censura e a autocensura, que vem junto, estão atingindo níveis muito sérios no Brasil", resumiu Carlos Lauria, coordenador do CPJ, que veio ao Brasil apresentar o levantamento Ataques à Imprensa em 2010. Ele distribuiu ainda outro texto menor sobre a situação na América Latina, em encontro promovido pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). "Nossos levantamentos apontam 44 jornalistas mortos em serviço e 145 presos, em todo o mundo, no ano passado", resumiu.
A censura ao jornal O Estado de S. Paulo, hoje em seu 565.º dia, é o destaque de abertura do levantamento sobre o continente. "É espantoso que, num país como o Brasil, um dos maiores jornais seja proibido de noticiar um grande escândalo, que envolve figuras políticas conhecidas. Não consigo imaginar o The Washington Post sendo proibido de publicar algo sobre um ex-presidente americano", disse ele. Lauria vai a Brasília amanhã, onde se reunirá com autoridades do Planalto, da Secretaria das Comunicações e dos Direitos Humanos. A agenda inclui uma visita ao Supremo Tribunal Federal (STF). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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